terça-feira, outubro 21

Operações ficcionais



O Orçamento de Estado (O.A.) é o exercício teórico que se pede aos sucessivos governos, há trinta e… quatro anos a esta parte, no que toca às contas públicas. Convém que o mesmo se aproxime da realidade mas Portugal é um país Quântico e questões dessas serão sempre relativas. O que se disponibiliza para cada ministério operar, o que se consegue juntar de modo a saldar as nossas contas, cá dentro e lá fora, e, penso eu, aquele é utilizado para fazer mover a máquina e para a optimizar. O que é que a minha vida, em tempo quase comparável ao tempo de vida republicana do O.A., me tem ensinado? É que a desgraça primeira desta grande nação é a matemática. Se tivessem dito a Pedro Álvares Cabral ou a Vasco da Gama quantos milhares de quilómetros e de horas estes iriam levar até chegarem a terra firme, estes provavelmente teriam ido até à Madeira passar o tempo ao sabor de caipirinhas (seria bom mas o Brasil ainda estava para ser).
Temos bons matemáticos mas eles escasseiam para os lados de São Bento. Seria de todo mais inteligente modificar-se o sistema político, o eleitoral pelo menos, de modo a podermos escolher os nossos ministros um a um. Veja-se o caso das eleições do EUA, onde um boletim de voto se consagra há eleição dos juízes das cidades, do Sheriff, ou para referendar sobre o tipo de empreitada a fazer (se túnel ou passagem superior ou inferior). Ou seja, retrata as preocupações mais fulcrais das pessoas e, se há situações às quais o nosso sistema já não parece ter resposta, por divórcio participativo dos Portugueses e por demérito ou falta de qualidade dos intervenientes, são as preocupações do dia-a-dia. Daí que eu advogue, do alto deste… sítio algures na planura, que o sistema seja revisto de modo a escolher os mais aptos, seguindo um movimento descrito por Darwin a propósito de outras “contas”, as biológicas.
Sendo assim e deste modo, o nosso sistema está estagnado e entregue a ineptos que, ano após ano, vagueiam num exercício que salta entre o absurdo e a utopia, ambas sem transposição prática para a língua matemática. Se por um lado é uma injustiça o que se passou com o sistema financeiro – e que acabou por disseminar o vírus com mais ou menos gravidade para todos – também o é a suposta moralização que a medida das rendas promove quando premeia os que fizeram mal as contas e/ou previram mal o futuro. Sim eu sei, seria complicado prever a volta que isto ia levar, mas havia coisas que se sabia: um – as taxas estavam a mínimos históricos; dois – ter capacidade para colocar de lado algum “cacau” de modo a não ultrapassar a barreira psicológica da “taxa de esforço máxima”.
Com esta regra permite-se indultar, e não “adultar”, os compulsivos aquisitores de casa, carro, plasma, bimbi, férias em Punta Cana e desgostar pessoas cumpridoras para já não falar numa certa lei das rendas aprovada em 2006 e da qual não há notícias, boas pelo menos. Num momento Zandinga, apodero-me do futuro e prevejo o mesmo desfecho para as outras parangonas desta legislatura.

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